quinta-feira, 26 de maio de 2016

Crítica | Alice Através do Espelho

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Alice no País das Maravilhas é uma obra literária de Lewis Carroll que foi publicada em 1865 e, em 1871, ganhou uma continuação em Alice Através do Espelho.
Em 2010, a Disney lançou um filme live-action de Alice no País das Maravilhas dirigido por Tim Burton, usando como fonte de inspiração as obras de Carroll. O longa foi um sucesso de bilheteria, ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão, e agora, seis anos depois, ele também ganhou uma sequência.
Através do tempo
Em Alice Através do Espelho, Alice (Mia Wasikowska) precisa salvar o Chapeleiro (Johnny Depp) e, para isso, rouba um objeto do Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar no passado e mudar certos eventos. A premissa é bem diferente de qualquer história de Carroll, mas não é isso que se mostra um real problema aqui.
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O livro de Lewis Carroll traz personagens loucos em um universo fantástico e o autor dá ainda mais profundidade a esse mundo através de poemas nonsense. Alice Através do Espelho da Disney – dirigido dessa vez por James Bobin – arranca qualquer magia daquele lugar ao dar uma explicação para a insanidade (e obsessão por chá) dos personagens e ao resumir todos os conflitos do longa a problemas familiares.
Ninguém precisava de um motivo para a Lebre de Março, o Dormundongo e o Chapeleiro estarem sempre esperando a hora do chá. Eles são loucos, malucos, pirados, mas eu vou te contar um segredo: as melhores pessoas são assim. Não é necessário se justificar.
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Casos de família
A perda de entes queridos é um tema quase tão recorrente quanto os trocadilhos sobre o Tempo (feitos de maneira figurada e também literal, já que aqui ele é um personagem). É possível ver isso tanto na morte do pai de Alice, quanto na morte do pai de Hamish (o noivo rejeitado por Alice no longa anterior), também na suposta perda da família do Chapeleiro e, por fim, na briga e no distanciamento das duas Rainhas do longa.
Em um universo tão rico quanto o do País das Maravilhas, tentar resumir todos os problemas a temas tão mundanos quanto morte e família faz com que todo aquele mundo fantástico perca as características maravilhosas e se torne um espelho do nosso mundo, apenas incluindo uma paleta de cores mais vibrante.
Alice (Mia Wasikowska) returns to the whimsical world of Underland and encounters Iracebeth, the Red Queen (Helena Bonham Carter) in Disney's ALICE THROUGH THE LOOKING GLASS, an all-new adventure featuring the unforgettable characters from Lewis Carroll's beloved stories.
E por mais que as cores sejam de encher os olhos, o visual de Alice Através do Espelho deixa a desejar. Os efeitos em computação gráfica de várias cenas ficaram datados, mesmo levando em conta que são personagens estilizados e com características exageradas.
Mundo real que parece fantasia
Enquanto os personagens de Wonderland se perdem em histórias de origem pouco inspiradas, conflitos bobos e motivações pífias, Alice conquista feitos inimagináveis no mundo real apenas por acreditar que é capaz.
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Alice é uma mulher jovem, solteira, independente, comandando um barco, superando tempestades e vencendo piratas. Ela veste o que tem vontade, não se importando se vai chocar alguém, e também desafia os homens da época, recusando-se a ser tratada como incapaz só por ser mulher, e se rebelando contra diagnósticos de “histeria feminina”, algo comum na era vitoriana, época na qual se passa o longa.
Todas as cenas de Alice no nosso mundo são muito mais inacreditáveis e inspiradoras que qualquer minuto que ela passa do outro lado do espelho tentando salvar o Chapeleiro. Infelizmente, o longa não se chama Alice Sendo Incrível no Mundo Real. A jovem passa muito pouco tempo em sua própria realidade e boa parte do que vemos na telona é justamente esse País das Maravilhas sem graça criado por James Bobin.
Alice (Mia Wasikowska) returns to the whimsical world of Underland to help the Hatter (Johnny Depp) in Disney's ALICE THROUGH THE LOOKING GLASS, an all-new adventure featuring the unforgettable characters from Lewis Carroll's beloved stories.
Sem carinho
Mesmo considerando as partes boas desta história, é difícil perdoar o que fizeram com obras tão amadas quanto os livros de Lewis Carroll. Alice Através do Espelho é um filme pouco imaginativo que tenta responder perguntas que nunca foram feitas. O único motivo plausível para essa continuação existir é uma resposta ao sucesso alcançado no primeiro longa.
Talvez todos os desastres do filme que acontecem na luta de Alice contra o Tempo pudessem ter sido evitados se a Alice do longa tivesse escutado uma frase da protagonista do livro de Lewis Carroll, na qual a garotinha diz que não adianta voltar para ontem, pois até então ela era uma pessoa diferente.

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